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Bitcoin pode ser impactado por decisão do Fed sobre juros

A economia dos Estados Unidos tem enfrentado algumas tensões que estão chamando a atenção de todos, especialmente à medida que se aproxima o simpósio de Jackson Hole, um importante encontro do Federal Reserve. Embora os números mostrem crescimento, a dinâmica real por trás desse crescimento é um pouco mais complicada. Para se ter ideia, o dólar já sofreu uma queda de mais de 10% desde janeiro, enquanto a inflação no índice PCE, um indicador crucial, permanece em 2,8%. Além disso, o índice de preços ao produtor (PPI) teve um aumento de 0,9% só em julho, superando todas as expectativas.

Em meio a tudo isso, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, especialmente os de 10 anos, estão se mostrando vulneráveis, com uma dívida colossal de 37 trilhões de dólares. O tema das taxas de juros se tornou um verdadeiro ponto de debate no cenário econômico, especialmente com o presidente Donald Trump pressionando o Banco Central a fazer cortes significativos nas taxas, levando os juros para uma faixa de 1,25% a 1,5%. Se isso acontecer, poderemos ver uma enxurrada de dinheiro barato no mercado, o que poderia provocar uma aceleração da inflação. Porém, caso o Fed resista a essa pressão, as tarifas elevadas e a recente expansão fiscal ainda podem contribuir para um aumento dos preços.

Diante desse quadro, é certo que os EUA estão em uma trajetória de alta inflação, e a diferença vai estar na rapidez e intensidade das mudanças que ocorrerão e como isso afetará o preço do Bitcoin.

E se Trump pressionar por cortes no Fed?

Se o Federal Reserve ceder e decidir por cortes já em setembro ou outubro, os desdobramentos podem ser rápidos e impactantes. A inflação do núcleo do PCE pode ultrapassar os 4% até 2026. Para comparação, após os cortes feitos durante a pandemia, o índice chegou a 5,3% em fevereiro de 2022. Se o dólar continuar a cair, podemos ver o índice DXY abaixo de 90.

O afrouxamento monetário temporário pode levar os rendimentos dos Treasurys para perto de 4%, mas, à medida que as expectativas de inflação aumentam, os investidores estrangeiros podem se afastar, fazendo os rendimentos subirem para além de 5,5%. Especialistas advertem que isso pode até quebrar de vez o mercado de títulos.

Isso tudo traria consequências fiscais imediatas. Os pagamentos de juros da dívida podem subir de cerca de 1,4 trilhões para até 2 trilhões de dólares, representando aproximadamente 6% do PIB até 2026. Isso poderia desencadear uma crise de serviço da dívida, pressionando ainda mais o dólar.

Mais alarmante ainda é a possibilidade de uma politização do Fed. Se Trump conseguir remover Powell e indicar alguém mais submisso, a confiança na política monetária dos EUA pode ser abalada. A situação é delicada e existem exemplos históricos, como a Turquia, onde a intervenção no banco central levou a uma inflação de 35%.

E se o Fed manter os juros?

Se o Fed optar por manter as taxas de juros, pode parecer a decisão mais sensata para preservar a credibilidade da instituição. No entanto, isso não vai proteger a economia da inflação. Já existem fatores em jogo: tarifas elevadas e a nova lei chamada ‘Big Beautiful Bill’ estão empurrando os preços para cima.

Os efeitos das tarifas já estão aparecendo, evidenciados pela alta no PMI composto dos EUA, que alcançou o maior nível desde dezembro. Além disso, muitos fabricantes estão atribuindo o aumento dos custos diretamente às tarifas. Um economista da S&P Global destacou que a inflação ao consumidor deve ultrapassar a meta de 2% do Fed nos próximos meses.

Embora ainda não possamos sentir completamente os efeitos da ‘Big Beautiful Bill’, as preocupações aumentam em relação ao aumento de gastos e cortes de impostos. Assim, mesmo sem cortes imediatos, a inflação do núcleo do PCE poderá se elevar para 3,0% ou 3,2%. Os rendimentos dos Treasurys provavelmente também subirão, talvez chegando a 4,7% até o próximo verão.

Nesse cenário, o DXY pode continuar a cair, com projeções que indicam valores na faixa de 91 até 2026. Essa situação pode causar divisões entre os formuladores de políticas, gerando blocos politicamente motivados dentro do Fed.

O impacto do cenário macroeconômico no Bitcoin

Diante de cortes acentuados, inflação alta e um dólar em baixa, é bem provável que o Bitcoin veja um aumento significativo no seu valor, acompanhado de ações e ouro. Com taxas de juros reais negativas e a independência do Fed em cheque, as criptomoedas podem se tornar uma opção bem vista como reserva de valor.

Por outro lado, caso o cenário de alta seja mais lento, o Bitcoin pode permanecer em um patamar mais estável até o final de 2025. No entanto, ao passo que a desvalorização do dólar se intensifica, ativos não soberanos como o Bitcoin começarão a ganhar mais atratividade.

Independentemente das decisões do Fed, o caminho à frente promete ser desafiador para o dólar e a dívida de longo prazo. O Bitcoin, por sua vez, pode se fortalecer como um dos poucos veículos viáveis nesse contexto econômico tumultuado.

Rafael Cockell

Administrador, com pós-graduação em Marketing Digital. Cerca de 4 anos de experiência com redação de conteúdos para web.

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